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Você tem medo do novo?

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O medo do novo, a sensação de apreensão diante do que está por vir, é uma experiência humana comum. Esse processo, que se manifesta como aversão ao desconhecido, pode surgir em diversas situações de mudança: um novo emprego, a mudança de residência, o fim de um relacionamento, etc.

Em essência, esse medo surge da incerteza inerente ao que não podemos prever ou controlar. É a mente humana, apegada ao familiar e ao previsível, reagindo à ausência de um mapa claro para o futuro.

Embora não haja um único termo psicológico universalmente aceito para descrever o medo generalizado do novo, conceitos como neofobia e aversão à incerteza são frequentemente utilizados para caracterizar essa tendência.


  • Neofobia: Refere-se à aversão ou medo de tudo que é novo ou incomum. Embora mais comumente usada para descrever a aversão a novos alimentos (neofobia alimentar), também pode ser aplicada a outras áreas da vida.


  • Aversão à Incerteza (Uncertainty Avoidance): É um conceito da psicologia social e cultural que descreve o grau em que os membros de uma cultura ou indivíduo se sentem ameaçados por situações ambíguas ou desconhecidas. Indivíduos com alta aversão à incerteza tendem a se sentir mais ansiosos e desconfortáveis com o novo.


“Os covardes morrem várias vezes antes da sua morte, mas o homem corajoso experimenta a morte apenas uma vez.” - William Shakespeare



Uma jornada histórica de rejeição e aceitação


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A descrença diante do desconhecido não é um fenômeno moderno; ela permeia diversas eras, desde os tempos bíblicos até as revoluções tecnológicas mais recentes.


A história da humanidade é um testemunho contínuo de um paradoxo intrigante.  O novo — seja uma ideia, uma invenção ou uma perspectiva — é frequentemente recebido com ceticismo, resistência e até hostilidade, antes de, eventualmente, ser aceito e, muitas vezes, celebrado. 


Essa dinâmica, impulsionada pelo nosso apego ao familiar e ao estabelecido, é um motor poderoso para o progresso, mas também revela uma profunda aversão ao desconhecido que molda a nossa evolução.


Na Bíblia, vemos exemplos marcantes de como o “novo” desafiava a lógica humana e o status quo era recebido com desconfiança:


  • Noé e o dilúvio: a ideia de uma inundação global parecia absurda em uma época sem precedentes de chuva.

  • Moisés e o êxodo: a missão de libertar Israel da escravidão foi questionada pelo próprio Moisés e rejeitada pelo Faraó.

  • Os profetas: mensagens que desafiavam práticas corruptas eram frequentemente ridicularizadas e seus portadores perseguidos.

  • Jesus Cristo: sua pregação de um Reino diferente foi amplamente desacreditada pelos líderes religiosos.


Descrença na era científica e tecnológica


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Com o avanço do conhecimento, a resistência a novas ideias que desafiavam paradigmas estabelecidos persistiu:


  • Heliocentrismo (Copérnico e Galileu): a teoria de que a Terra girava em torno do Sol foi inicialmente desconsiderada e seus defensores, como Galileu, perseguidos.

  • Teoria da evolução (Darwin): sua teoria da seleção natural enfrentou forte resistência, especialmente de setores religiosos.

  • Voo (Irmãos Wright): a ideia de que humanos poderiam voar era vista com ceticismo e ridicularização, com os primeiros experimentos sendo amplamente ignorados.

  • Novas formas de arte: movimentos como o impressionismo e o cubismo foram inicialmente criticados e desconsiderados antes de se tornarem marcos artísticos.



O medo do novo na saúde e na tecnologia moderna

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Mesmo em tempos mais recentes, o padrão se repete:


  • Higiene nas cirurgias (Século XIX): a simples ideia de lavar as mãos, proposta por Ignaz Semmelweis para reduzir infecções, foi recebida com hostilidade pelos médicos.

  • O telefone e o automóvel: ambos foram vistos como brinquedos ou invenções impraticáveis em seus inícios.

  • A Internet (Final do século XX): inicialmente descrita como uma “moda passageira” ou um nicho para “nerds”, muitos questionavam sua utilidade diária.


Por que a resistência persiste?

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Essa aversão inicial a novas ideias é impulsionada por diversos fatores intrínsecos à psique humana e à sociedade:


  • Inércia do pensamento: o conforto do familiar e do estabelecido nos faz relutar em desafiar crenças enraizadas.

  • Medo do desconhecido: o incerto gera ansiedade; é mais cômodo permanecer na zona de conforto.

  • Interesses estabelecidos: inovações podem ameaçar poder e benefícios de grupos que se beneficiam do status quo.

  • Falta de compreensão: ideias complexas podem ser rejeitadas por simples desconhecimento ou dificuldade em visualizá-las.

  • Ceticismo justificado: nem toda ideia nova é boa ou verdadeira, e um ceticismo inicial pode ser uma defesa necessária.


"Nada é permanente, exceto a mudança."- Heráclito.

A destruição criativa: o motor do progresso

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Paradoxalmente, a tensão entre a inovação e a resistência é o motor do progresso humano. O economista Joseph Schumpeter imortalizou esse ciclo como destruição criativa, um processo inevitável que impulsiona o desenvolvimento econômico:


  1. Destruição: novas tecnologias tornam processos, habilidades e empregos obsoletos (ex: teares manuais substituídos por máquinas).

  2. Criação: as mesmas tecnologias geram novas indústrias, produtos, serviços e, consequentemente, novos empregos (ex: operários de fábrica, engenheiros).

  3. Progresso: no longo prazo, esse ciclo aumenta a produtividade, a riqueza e o padrão de vida da sociedade.

A história econômica comprova esse padrão. A Revolução Industrial, a Eletrificação e a Revolução da Informação são exemplos claros de como a dor inicial da obsolescência foi superada por um avanço sem precedentes na produtividade e na qualidade de vida.


O Perigo de Proteger o Obsoleto


Tentar “proteger empregos obsoletos” bloqueando tecnologias é contraproducente:


  • A indústria local se torna ineficiente, perdendo competitividade global.

  • Recursos são desviados de setores inovadores, freando o crescimento econômico.

  • A sociedade perde os benefícios de eficiência, produtos melhores e avanços em áreas essenciais.

  • Trabalhadores não requalificados acabam condenados à obsolescência.


Desde a Revolução Industrial, apesar das crises, a pobreza extrema global diminuiu drasticamente, e a expectativa de vida dobrou, demonstrando que a inovação é a força motriz para a redução da miséria.


Envelhecimento e a resistência à mudança: uma tendência, não uma regra

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É comum associar o envelhecimento a uma maior resistência a mudanças. Embora não seja uma regra absoluta, alguns fatores podem contribuir para essa percepção:


  • Declínio da flexibilidade cognitiva: a capacidade de adaptar pensamentos a novas situações pode diminuir com a idade, favorecendo rotinas.

  • Valorização da estabilidade: rotinas e conquistas de uma vida podem ser mais valorizadas, e a mudança é vista como uma ameaça a essa segurança.

  • Experiências negativas acumuladas: lições do passado podem gerar maior cautela e desconfiança em relação ao novo.

  • Perda de capacidades e energia: declínios físicos e sociais podem reduzir a disposição para enfrentar desafios adicionais.

  • Aversão amplificada à incerteza: a percepção de menos tempo para se recuperar de erros pode intensificar o medo do desconhecido.


Contudo, a individualidade é crucial. Personalidade, saúde mental e estímulos constantes (novos aprendizados, hobbies) podem manter a flexibilidade cognitiva e a abertura ao novo em qualquer idade.


A teoria do décimo homem: um antídoto para a complacência

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Para combater a resistência ao novo e abraçar a inovação, a Teoria do Décimo Homem surge como uma ferramenta valiosa. Originada na ficção, mas com aplicações práticas em inteligência e negócios, ela propõe:


  • A premissa: se 9 pessoas em um grupo concordam com uma conclusão, o 10º membro tem o dever de discordar e defender o oposto, independentemente de suas convicções pessoais.

  • O objetivo: evitar a “cegueira coletiva” causada pelo pensamento grupal (groupthink) e pelos vieses cognitivos.

  • A ação: o décimo homem atua como um “advogado do diabo” institucionalizado, forçando a análise de cenários negligenciados e explorando ativamente o “improvável”.


Essa abordagem é vital para:


  • Tomada de decisões estratégicas: força a consideração de planos de contingência para cenários disruptivos.

  • Inovação e pesquisa: obriga a questionar dogmas e a investigar o “impossível”.

  • Gestão de riscos: desenvolve cenários detalhados de eventos improváveis, aumentando a resiliência.


Casos como a falência da Kodak (pela resistência ao digital) e o acidente do Challenger (pela ignorância dos alertas) demonstram a importância de questionar o consenso.


Abraçando a onda da mudança

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A história nos ensina que o progresso tecnológico, embora desestabilizador no curto prazo, é a principal força por trás da melhoria do padrão de vida humano. O desafio não é temer ou tentar impedir o “novo”, mas sim acelerar a adaptação e suavizar a transição. Isso exige:


  • Requalificação massiva da força de trabalho para as novas habilidades demandadas.

  • Redes de segurança robustas e apoio à recolocação para quem está em transição.

  • Garantir acesso à oportunidade por meio de educação e treinamento contínuos.


A Teoria do Décimo Homem é mais do que uma regra; é uma filosofia que institucionaliza a pergunta crucial: “E se estivermos errados?” Ao questionar, testar e, finalmente, integrar as "novidades", a humanidade não somente sobrevive, mas prospera.


O desconhecido pode ser assustador, mas é nele que residem as soluções para os desafios de hoje e as conquistas de amanhã.


Entretenimento que engrandece



Filmes:

 

A Teoria de Tudo (The Theory of Everything, 2014) - Mostra a persistência de uma mente brilhante contra o ceticismo e as limitações (físicas e intelectuais) impostas.

 

A Rede Social (The Social Network, 2010) - Aborda a criação de algo “novo” que a princípio foi subestimado, mas que revolucionou o mundo.

 

O Jogo da Imitação (The Imitation Game, 2014) - Alan Turing e sua equipe criaram algo totalmente "novo" que mudou o curso da guerra, enfrentando descrença e burocracia.

 

 

Livros:

 

A Estrutura das Revoluções Científicas (The Structure of Scientific Revolutions) - Thomas S. Kuhn - Este é o livro seminal sobre como a ciência avança: não por acúmulo linear de conhecimento, mas por “revoluções” onde paradigmas antigos são derrubados por novos, enfrentando grande resistência da comunidade científica.

 

Pensar Rápido e Devagar (Thinking, Fast and Slow) - Daniel Kahneman - Psicologia cognitiva, vieses humanos, como tomamos decisões e por que somos avessos a riscos e mudanças. Aborda o "Sistema 1" (rápido e intuitivo) e o "Sistema 2" (lento e racional) e como eles influenciam nossa aceitação ou rejeição do novo.

 

 

Séries:

 

Silicon Valley (2014-2019) - Mostra a luta de pequenas empresas inovadoras para ter suas ideias aceitas, a competição com gigantes estabelecidos e os desafios de introduzir algo “novo” no mercado.Exemplo moderno da destruição criativa e da resistência (e burocracia) que as inovações enfrentam.

 

Mad Men (2007-2015) - O mundo da publicidade nos anos 60, uma era de grandes mudanças sociais e culturais. A série mostra como as empresas e as pessoas reagem a novas ideias, seja na publicidade, nos direitos civis, na cultura de consumo ou nas relações sociais.

 

Cosmos: Uma Odisseia do Espaço-Tempo (Cosmos: A Spacetime Odyssey, 2014) - Documentário científico que narra a história da ciência, muitas vezes focando nos cientistas que propuseram ideias revolucionárias e enfrentaram resistência (Galileu, Giordano Bruno, etc.).

 


 
 
 

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Olá, sou a Claudia Taulois. Mãe, publicitária, empreendedora e escritora.

Tenho orgulho de minhas realizações, começando pela minha família. Escrever traz sentido e alegria à minha vida! Com anos de experiência na área de Comunicação de Instituições Financeiras.

Minha veia criativa me levou a publicar livros e criar projetos editoriais.

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